Pouco se fala sobre viagem para pessoas com algum tipo de deficiência e esse era um assunto que estava me intrigando há algum tempo, principalmente quando pensava em meu trabalho como consultora de viagens. Além disso raramente esse assunto é levantado em blogs ou redes sociais de viagem e isso foi o que mais chamou minha atenção, até que comecei a pesquisar mais sobre.
Deficientes físicos também viajam, porém claramente os desafios são grandes. Então porque não disseminar mais informação e ajudar quem precisa dessa orientação? Não só deficientes físicos, como deficientes visuais, intelectual, etc.
Conversando com algumas pessoas que têm alguma deficiência e consultando alguns blogs deste nicho, resolvi fazer esse post para quem sabe incentivar esse público auxiliando com dicas.
Aqui vão algumas dicas e logo mais abaixo o depoimento de algumas pessoas que viajam nestas condições.
Poder pode, mas decidir viajar é uma decisão muito particular da pessoa, pois depende da restrição que ela tem e o quão segura se sente para a situação. Eu particularmente não gosto de dizer para ninguém que não é possível viajar, por isso prefiro mostrar alternativas e fica a cargo de cada um a decisão.
Portanto o objetivo aqui deste post é trazer dicas e dessa forma cada pessoa avaliar ao que pode se adequar.
A pessoa com deficiência têm alguns direitos que alguns desconhecem. Vamos citar alguns aqui, como por exemplo:
É importante salientar que primeiro a pessoa com deficiência faz a compra da passagem normalmente, e somente depois disso faz a solicitação da passagem com desconto para o acompanhante mediante apresentação dos formulários FREMEC ou MEDIF. Isso vale também para voos internacionais e se aplica não somente à restrições de mobilidade, mas sim qualquer pessoa que tenha algum tipo de deficiência e precise de auxílio como por exemplo: deficiência visual, autismo, síndrome de down, etc.
O MEDIF trata-se de um formulário preenchido e assinado pelo médico onde que diz que a pessoa tem uma restrição de mobilidade que é provisória e atesta que ela está apta para viajar. Porém é válido por apenas um mês.
Já o FREMEC tem validade de um ano e é muito utilizado por quem tem restrição de mobilidade permanente. Também exige assinatura de médico, junto com laudo médico.
Esses formulários você encontra no site das companhias aéreas, todavia note que se você tem um voo onde há uma conexão e cada trecho é feito por companhias áreas diferentes, você precisa apresentar os formulários preenchidos das duas companhias (ou mais) que irá utilizar durante o trajeto.
Antes de tudo, esse é um ponto muito importante para quem usa cadeira de rodas motorizada: o tipo de bateria.
Então atenção cadeirantes: se sua cadeira de rodas for elétrica, verifique junto com a companhia aérea antecipadamente as regras para despacho da bateria. Algumas baterias podem ser consideradas nocivas no voo e precisam de um transporte adequado, especialmente as baterias líquidas. Tenha junto com você o comprovante do tipo de bateria que o aparelho possui.
Uma boa dica aqui é você traçar uma rota pelo caminho considerando postos ou lojas com banheiros adaptados. O próprio Google Maps pode ajudar nessa pesquisa, bem como alguns outros aplicativos que vou citar mais abaixo neste post.
Esse assunto pode parecer simples, pois a princípio seria só escolher uma hospedagem que tenha rampa, estacionamento acessível, etc. Mas será que é simples assim e que as coisas funcionam mesmo? A acessibilidade realmente existe no local?
Portanto segue abaixo algumas coisas para se observar ao fazer uma reserva, lembrando que isso pode se alterar de pessoa para pessoa, dependendo do que o viajante necessita:
O que vou citar aqui não é das melhores opções, mas ajuda quando você verificar que pelo trajeto não há banheiros com acessibilidade ou até mesmo se estiver em uma viagem de avião ou ônibus: trata-se das roupas íntimas descartáveis. É uma alternativa quando o deficiente fica impossibilitado de usar banheiros ou não há banheiros adaptados durante o trajeto.
Outra forma utilizada por deficientes físicos, é usar medicamentos que aumentem a bexiga. Mas lembre-se, qualquer medicamento deve ser prescrito por um médico. Não faça uso sem conversar com seu médico antes.
Já sabemos que os aplicativos nos ajudam muito em viagens, e sendo assim durante as pesquisas sobre viagem para pessoas com deficiência descobri quatro aplicativos. Consegui testar 3 deles. Dessa forma segue um breve resumo sobre cada um:
Com tudo que já foi relatado neste post, é visível que há obstáculos em uma viagem para uma pessoa com deficiência, mas também há opções. Sendo assim, segue nos próximos tópicos sugestão de lugares para visitar que contam com boa acessibilidade.
Com o assunto de acessibilidade tomando força, algumas cidades estão se destacando neste quesito. Diante disso segue algumas cidades conhecidas por terem vários pontos com acessibilidade:
No Brasil temos alguns locais já preparado para pessoas com deficiência, principalmente com restrição de mobilidade.
Segundo o Instituto Chico Mendes, os locais abaixo são preparados com acessibilidade:
A nível mundial, no Chile existe a trilha Los Copihues que é inclusiva. Além disso a empresa Wheel The World promove tours para cadeirantes para vários lugares do mundo, como MachuPicchu e Ilha de Páscoa, por exemplo. Alguns lugares são patrimônio e não podem ser adaptados, como é o caso de Machu Picchu, sendo assim eles elaboraram alguns passeios com cadeiras de rodas apropriadas para esses locais.
Edmilson é morador de Santa Catarina e tem uma deficiência física onde precisa de muletas ou cadeira de rodas para sua locomoção. Mas nada disso o impede de fazer suas viagens além de participar de um time de basquetebol de cadeirantes. Dentre algumas viagens que já fez, pode-se destacar Foz do Iguaçú, Uruguai, Ponta Grossa, Irlanda, Inglaterra e Escócia.
Quando quero viajar planejo tudo nos detalhes, buscando muita informação em blogs de cadeirantes, vejo quem vai viajar comigo e estudo o destino. No caso dos hotéis, além de ver as fotos do site, sempre ligo e peço mais fotos, principalmente do banheiro. Já viajei tanto de carro como de avião. Cada deficiente tem suas limitações e cada um sabe o que precisa para sua viagem, mas o que comento aqui é o que faço no meu caso.
Para minha viagem à Foz do Iguaçú planejei tudo sozinho, liguei para os hotéis que estava pesquisando e pedi mais fotos. Consegui um hotel muito bom, inclusive com elevador além de ter rampa para a piscina. As Cataratas de Foz do Iguaçú tem acessibilidade tanto do lado do Brasil como do lado Argentino. Raramente precisei de alguém para me ajudar, isso apenas ocorreu em alguns lugares onde as rampas eram muito inclinadas.
Em Ponta Grossa fui na trilha Buraco do Padre, que conta com toda estrutura necessária para quem precisa acessibilidade. Foi uma viagem muito bacana e o lugar é bem preparado para receber deficientes físicos.
Além de viajar pelo Brasil viajei também para a Europa com meus irmãos sendo uma viagem mais mochileira. Usamos transporte público, carro alugado e em lugares que precisava caminhar muito aluguei cadeira de rodas. Em lojas de produtos ortopédicos geralmente você consegue alugar cadeira de rodas, inclusive em uma viagem.
Na Irlanda deficiente físico e seu acompanhante não pagam entrada nas principais atrações.
Visitei também Inglaterra e Escócia. Contudo na Escócia tive um pouco de dificuldade em alguns castelos antigos, que não tem como serem adaptados.
Viajei de carro para o Uruguai há dois anos atrás, e tenho planos de voltar para lá com mais dois amigos deficientes físicos.
Quando viajo, costumo também levar uma cadeira de plástico dobrável para auxiliar no banho, quando o hotel não dispor desse item.
Ainda não tive a oportunidade de viajar sozinho, mas pretendo um dia fazer. A vida é para aproveitar, é feita para isso, conhecer o mundo mesmo. Espero continuar viajando por muitas outras vezes. Medo sempre dá, mas temos que fazer, sair e conhecer o mundo…vai com medo mesmo!
Relato e dicas de Kelly, viajante e com deficiência visual:
Como uma pessoa que experimenta a deficiência visual a quase 40 anos aprendi que o mundo é do tamanho dos meus olhos e do meu olhar. Não digo esse olhar dos olhos, esse é limitado, mas o olhar que sinto. E eu posso sentir o mundo de várias formas diferentes.
Viajar me possibilita experienciar esse sentir com os olhos da alma as múltiplas belezas e diferenças que o mundo tem. A beleza do mundo reflete a beleza do meu mundo interno.
Por isso, sendo você ou não uma pessoa com deficiência, viaje! Construa olhares e diferentes belezas dentro de você. Veja que nesse mundo de Deus tem lugar para todos e todas as diferenças.
Desafie-se a sair da sua zona de comodidade. No início você terá que lidar com o medo, com os desafios da acessibilidade, com o preconceito, mas quando você vencer isso dentro de você, entenderá que você pode ser um cidadão do mundo.
E quando o medo vier, pegue na mão dele e leva ele com você, entretanto não deixe de ir a nenhum lugar.
Bruna é professora, cadeirante, já viajou para fora do país e pode nos relatar um pouco dessa sua experiência, como foi o preparo da equipe das companhias aéreas no voo e algumas dificuldades que enfrentou.
Há algum tempo atrás Bruna viajou para a Irlanda e antes disso já tinha feito um intercâmbio no Canadá. Como no trajeto do Brasil para a Irlanda ela estaria sozinha, antes da viagem ela teve alguns cuidados juntamente com a empresa que organizou sua viagem onde eles trabalharam para que as dificuldades fossem as mínimas possíveis. E um desses cuidados foi deixar todas as companhias aéreas que ela utilizou cientes de sua condição e de que ela precisaria de ajuda desde o aeroporto até sua chegada no destino. O que de fato funcionou, com algumas diferenças entre os países que logo citaremos.
Conforme citado no início deste post, toda pessoa com algum tipo de deficiência que a limite de fazer algumas ações essenciais sozinha, tem o direito de receber auxílio próprio para tal das companhias aéreas, assim como tem direito aos assentos mais espaçosos sem custo adicional.
Ao chegar no aeroporto de Navegantes Bruna já recebeu o auxílio da companhia aérea e todo o cuidado no despache da cadeira de rodas.
No raio x foi solicitado que fosse retirada sua bota, porém sem ajuda para alguém colocar de novo com todo o cuidado que necessita, acabaram deixando ela passar dessa forma mesmo.
Em sua primeira conexão em São Paulo, ao desembarcar já havia um funcionário da companhia aérea esperando por ela para prestar todo o atendimento. Da mesma forma, ao desembarcar em Amsterdã também foi recebida por um funcionário da companhia aérea, funcionário este que tinha treinamento e era capacitado em atender passageiros com alguma necessidade, onde trabalhava focado em atender esse público. E o atendimento por este último, ao chegar na Irlanda, foi excelente. A forma de abordagem foi um pouco diferente do que no Brasil.
Antes de viajar Bruna avaliou várias situações, tais como, pedir foto da casa onde iria se hospedar, baixou mapas para não se perder durante a viagem e contou com a ajuda de amigos em algumas situações. Em geral, teve poucos problemas com acessibilidade. Porém em alguns pontos turísticos como por exemplo o Museu casa de James Joyce, onde havia muitas escadas, Bruna precisou de auxílio. Em alguns Pubs também teve dificuldade com acessibilidade.
Em geral foi uma viagem muito bacana, onde conseguiu visitar vários pontos turísticos (alguns onde precisou de auxílio), parques, fez tour de pubs e viajou pela costa da Irlanda com amigos.
Claro que ocorreram situações mais complicadas devido a falta de acessibilidade, mas com a ajuda de amigos a viagem foi muito boa!
Bruna ressalta sobre os direitos de viagem de quem tem alguma deficiência física. Exijam seus direitos! Você deve receber ajuda da companhia aérea desde que chega até o momento de sair do aeroporto. É um direito e este deve ser respeitado.
Sabemos que a decisão de uma pessoa com deficiência sobre viajar ou não, para onde ir e como ir é muito particular. Mas sinceramente espero que esse post sirva como ajuda e até incentivo. Além disso é um trabalho que acrescentou muito para mim Luisa, como consultora de viagem, pois depois deste estudo é um público que posso atender.
Contudo, além de eu ter conversado com vários deficientes para montar esse material, muitos outros relatos de blogs e vídeos foram fundamentais para esclarecer dúvidas que eu tinha. Um dos blogs que achei muito rico em informação para este público é o Cadeira Voadora . Se você quer se aprofundar mais no assunto de viagem para pessoas com deficiência, vale a pena conferir este blog que acabei de citar.
Ajude a disseminar a informação! Mande esse post para as pessoas com deficiência que você conhece e quem sabe consegue também incentivá-los e ajudá-los para fazer uma viagem?
Veja também: dicas para viajar sem falar inglês ou o idioma local.